sábado, 18 de julho de 2009

Lançamento da Revista Big Ode#7 e do projecto ZeroFilme #1





(- Dia 18 de Julho na Trama

- Dia 25 de Julho no Estaleiro Cultural Velha-a-Branca (em Braga))

Colaboradores Big Ode #7 - Sublime

Alberto Guerreiro (POR)
Angelo Mazzuchelli (BRA)
Angelo Ricciardi (ITA)
A. Dasilva O. (POR)
Artur Aleixo (POR)
Constança Lucas (BRA)
Fernando Aguiar (POR)
Francisco Carrola (POR)
Gonçalo Cabaça (POR)
Henrique Fialho (POR)
Hilda Paz (ARG)
João Rasteiro (POR)
José Carreiro (POR)
João Concha (POR)
João Pereira de Matos (POR)
Manuel da Silva (POR)
Maria Quintans (POR)
Mário Cervantes (COL)
Paulo Pego (POR)
Pedro S. Martins (POR)
Renaat Ramon (BEL)
Roberto Keppler (BRA)
Rodrigo Miragaia (POR)
Rui Carlos Souto (POR)
Rui Costa (POR)
Rui Tinoco (POR)
Sara Rocio (POR)
Sérgio Monteiro de Almeida (BRA)
Tiago A. da Veiga (POR)
Vittore Baroni (ITA)


MAIL ART INTERVIEW

Angelo Mazzuchelli (BRA)
Arturo Accio (MEX)
Clemente Padín (URU)
Hilda Paz (ARG)
Hugo Pontes (BRA)
John Held Jr (USA)
José Oliveira (POR)
Luc Fierens (BEL)
Maria Arcieu (POR)
Miguel Jimenez (ESP)
Reed Altemus (USA)
Renaat Ramon (BEL)
Rod Summers (NLD)
Serse Luigetti (ITA)
Vittore Baroni (ITA)

http://big-ode.blogspot.com/

quinta-feira, 16 de julho de 2009

escancaro

(maynard james keenan)




Aprendi tudo desde a tua
morte. Passei

de pedra a madeira
e de madeira
a vidro. Frágil e superlativo como
o corpo que sou a viver dentro
de uma rodilha de suspiro.

O cancro não se come. Ainda não
há garfo e faca para o bicho. Ainda tentei
sentir as metástases no céu
da boca. Procuro entre mim
o aço,
encontro-lhe o superlativo no amor
à perda.

Odiar-me-ás quando te confessar
que guardo o teu cancro
na têmpora esquerda. Na direita,
a arma que o matará quando
ele acordar outra vez. Rede

entre o cancro e a sua morte,
o meu escandaloso e
tenebroso
cérebro.

Perdi tudo desde a tua, desde a tua,
a tua, sim, a tua
morte. Ouço-me em dificílimos decibéis
de dor guinchados em palpitações
anónimas (não são

nada anónimas pois estão) com o teu
nome esventrado.

Se as minhas pulsações és tu, também
eu morri de cancro
há tempos. Adeus às coisas aí, esta
é,
indubitavelmente, a obra-prima
do brilho que a paixão tem
no escuro.

Brilha que interrompe.
******

pedro s. martins

domingo, 12 de julho de 2009

Dulce, abandonei-me

(Júlio Pomar)

Aqui não vão encontrar
ascensões, apenas o arcaísmo
armadilhado que não cessa
nem estanca
o vazamento da dor.

A tremura denuncia a quem
me vê
tudo o que conteúdo do casaco
aluído no meu corpo. Tudo
na Foz cheira
a esperança, tudo na Foz
é vapor
rico de quem não ficou
na plebe à espera
do derreter da vida.

E toda esta esperança-espectáculo
tem bastidores. Cai(r)am tristezas, caem
tristezas,
(bate vagabundo no sofrimento
de dormires
a estala o banco de jardim;
barba e cabelo sem rédea,
e a tez
cremada pela idade de se ser vivo
são chave para o abismo.)

A fome é tão corrosiva que a consigo
cheirar
daqui. Exilado pela árvore genealógica
da sociedade, és galho
que vai partir (vais
partir.
Vais.
Quebrarás sem restolho
na Foz.)

[Dulcinha-sobrinha, vire a cara para o outro lado. Veja a montra. Está
ali um pedinte, um pedante, um daqueles, está a ver? Dulcinha-filha,
olhe ali um jovem de cabelo solto e de riso
que importa à neve. Dulcinha-afilhada
ignore aquela morte
ali estatelada
no banquinho de jardim.]

Dulce-mulher, cai a maçã,
parte o ramo, arde o cheiro a serpente, fica
o aroma a morangos espremidos na hora. Fosse
aquele o último homem e a colheita estava
estragada, aluía-vos
o estatuto.

Levanto-me do banco, ando e sei que mal me coube
uma pessoa na minha
morte de ontem.
******

pedro s. martins

quinta-feira, 2 de julho de 2009

sem violência

(Tomé Duarte)

No fim da
minha vida
será sempre Domingo. Rebentar-me-á
o sono pela manhã, o dia
será escuro e sei
que ouvirei o que os outros
me terão dito

durante o dia o resto da vida. A preocupação
com a morte é assídua. As veias doem, estão
enclausuradas e apenas servirão
para se entupirem. Sou um vitral de cansaço
no corpo do mundo. Corações com defeitos;

veias concatenas em remoinhos, cérebro
ocupado a pensar nesse tal
Domingo. Circulo em torno desse dia,
como um comboio de brincar
circunda uma criança feliz.

Firo-me para não chorar, as substâncias
ajudar-me-ão a chegar ao final
da
semana. Dou horas, sirvo hábitos, escondo-me
na dormida paga pelo destino, tudo para queimar
o inferno e o céu que está reservado
a cada um dos que por cá ainda
andam.

Não, ainda não me desperdicei de vez. Esta
espécie de angústia
é uma espécie

de alegria e / ou trabalho. Trabalho para não morrer. Sou
uma casa escorada por quem me quer cá. Vivo
sequestrado por este silêncio
que me completa a voz interna, esta alegria
de estar vivo a fumar ao espelho
num Domingo de manhã
qualquer.
******

pedro s. martins